sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Carta do I Encontro Nacional do Fórum de Gestores/as LGBT

O Fórum Nacional de Gestoras e Gestores Estaduais e Municipais de Políticas Públicas para População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais divulga carta referente ao seu I Encontro Nacional.



Nós, integrantes do Fórum Nacional de Gestoras e Gestores Estaduais e Municipais de Políticas Públicas para População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (FONGES LGBT), reunidas/os entre os dias 04 e 06 de setembro de 2013, na cidade de São Paulo, no I Encontro Nacional de Gestão das Políticas Públicas para a População LGBT, reafirmamos nosso compromisso em fortalecer, nos Estados e Municípios, a formação e discussão sobre diversidade sexual de forma transversal ao contexto político de construção e participação, entre diferentes atores, na gestão dos serviços públicos da área dos direitos humanos e cidadania LGBT no país.
Nosso encontro, em toda a sua programação, objetivou discutir, identificar desafios e compartilhar experiências sobre a gestão pública na área da Diversidade Sexual, com foco nas tensões e diálogos entre os diferentes atores sociais na construção dessa política.
Na mesa de abertura, no auditório Franco Montoro da Secretaria de Estado de Justiça e da Defesa da Cidadania, discutimos sobre os “Desafios do Cenário Brasileiro para as Políticas Públicas LGBT”. Nos dois dias seguintes, a programação seguiu com as mesas temáticas: Institucionalização das Políticas Públicas LGBT; Violência contra LGBT e Estratégias de Enfrentamento; LGBT nas políticas de educação, saúde e assistência social; Mecanismos de Controle Social e a relação do movimento social com a gestão.
Além das mesas temáticas, construímos um encontro que permitiu o levantamento e a discussão de temas recorrentes na gestão das políticas LGBT e a necessidade cotidiana de transversalizar o tema da diversidade sexual em outros espaços governamentais. Assim, promovemos 04 (quatro) rodas de conversas, com as seguintes proposições:
1)    Cidadania Trans: a) Mecanismos de diálogos entre o movimento de travestis e transexuais e gestão; b) Plano Nacional de Políticas Públicas para pessoas trans, em parceria com o movimento social; c) Formação de gestoras e gestores na área da travestilidade e transexualidade; d) Encontro Nacional de Trans gestoras/es;
2)    Juventude e Diversidade Sexual: a) Transversalizar com o Estatuto da Juventude as agendas LGBT; b) Acesso e garantia do processo transexualizador, com inclusão da hormonoterapia, na área de saúde da população jovem; c) acesso à educação inclusiva e não sexista às travestis e transexuais, com atenção ao nome social e uso do banheiro feminino, estratégias de enfrentamento ao bullying transfóbico e evasão escolar em virtude da discriminação e violências sofridas por esse segmento; d) garantia de visitas íntimas a LGBT em processo de ressocialização;
3)     Diversidade Sexual e políticas da Assistência Social: a) Melhoria do Disque 100, com qualificação dos atendentes do DDH e criação de fluxo a nível estadual das denuncias; b) Promover diálogo efetivo com o Conselho Nacional LGBT; c) Diálogo com Ministério da Defesa, para encaminhamento junto às Secretarias de Estado de Administração Penitenciárias para atendimento das demandas LGBT no sistema prisional; d) Diálogo com Ministério do Desenvolvimento Social para a formação e capacitação dos servidores da assistência e Ongs que prestam o serviço socioassistencial, com foco na tipificação dos serviços de assistência para LGBT;
4)    Mídia e Comunicação: a) Inclusão nos orçamentos dos organismos de políticas públicas LGBT e/ou secretarias às quais estão vinculados recursos para campanhas educativas com a temática LGBT; b) Utilização dos espaços públicos para promoção das atividades de cidadania LGBT; c) Utilização da internet, em especial das Redes Sociais, como ferramenta para divulgação de informações sobre a diversidade sexual e das ações de promoção da cidadania e direitos humanos de LGBT, bem como, para o enfrentamento à homofobia; d) Trabalhar, na área de comunicação, uma linha voltada aos Direitos Humanos e o enfrentamento à discriminação e preconceito.
Por entender que, apesar do crescimento do debate sobre sexualidade e gênero no campo da gestão pública, as travestis e transexuais continuam representando o segmento mais vulnerável. O grau de exclusão social e vulnerabilidade, desse segmento, alcançam indicadores muito preocupantes. Cientes dessa problemática, fomentamos, desde a fundação do FONGES LGBT, maior sensibilização de gestoras e gestores para demandas específicas das travestis e transexuais, com o intuito de promover o empoderamento e a maior participação deste segmento nos organismos de gestão. Reiteramos, aqui, o nosso compromisso com a temática, e ressaltamos que, na diretoria de nosso Fórum, temos o recorte de identidade de gênero em nossos cargos, a exemplo da vice-presidência e na titularidade das Diretorias Regionais.
Entendemos que, apesar de uma relativa abundância de documentos governamentais e de eventos que proporcionam interlocução entre governo e sociedade civil, o grande desafio é transformar as incipientes políticas públicas, gestadas ao longo dos últimos anos, em efetivas políticas de Estado, que não estejam à mercê da boa vontade de governantes e das incertezas decorrentes da inexistência de marco legal de combate à homofobia e de promoção da cidadania LGBT.
Não temos dúvidas que o Brasil sem Homofobia, as Conferências Nacionais LGBT, o Plano Nacional LGBT, o PNDH-3 e, atualmente, o Sistema Nacional LGBT, são manifestações do compromisso do Governo Federal com demandas históricas da população LGBT, ainda que seja muito restrita a possibilidade de assegurar direitos para essa população apenas por meio de iniciativas promovidas pelo Poder Executivo. Afinal, políticas públicas visam definir ações e programas capazes de gerar maior efetividade para direitos previstos em normas legais, o que ainda não acontece no caso da maior parte dos direitos sexuais no Brasil, especialmente no tocante à igualdade na esfera pública entre todas as pessoas, independentemente de orientação sexual e identidade de gênero.
No tocante à implementação das ações relativas à população LGBT que integram planos e programas, caso o fundamentalismo religioso não se encastele de vez na estrutura do Estado, a tendência é que, a médio e longo prazo, na esfera de competência que é própria ao Poder Executivo, consiga-se superar as resistências homofóbicas institucionais, a inexperiência na execução de políticas transversais e intersetoriais relativas a gênero e direitos sexuais e as carências orçamentárias.
Não há dúvida, porém, de que isso só se tornará mais factível e com repercussões cada vez maiores em todas as esferas da sociedade se o Poder Legislativo e/ou o Poder Judiciário definirem o lastro legal que reconheça direitos civis da população LGBT e que tipifique por lei a homofobia como crime. Esse respaldo jurídico é necessário e imprescindível para ampliar as possibilidades de convencimento social de que lésbicas, travestis, transexuais, gays e bissexuais não podem ser objeto de ódio, violência e exclusão, já que o Estado reconhece, inequivocamente, sua cidadania e direitos humanos, prevendo alguma modalidade de punição das pessoas que insistirem em condutas homofóbicas. Com esses suportes, ficará muito mais promissor formular, implementar, monitorar e avaliar políticas públicas no âmbito dos direitos sexuais.
Por fim, conclamamos a todas as gestoras e gestores que promovem ações e atividades na área de cidadania LGBT, para se filiar a nosso Fórum Nacional de Gestoras e Gestores Estaduais e Municipais de Políticas Públicas para População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (FONGES LGBT), pois assim estaremos, cada vez mais, ocupando os espaços de poder e auxiliando na construção de um país livre de todas as formas de violências contra lésbicas, travestis, transexuais, gays e bissexuais.
São Paulo, 06 de setembro de 2013
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Área Técnica da Saúde LGBT da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia
Assessoria de Cultura, Gênero e Etnias da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo
Assessoria de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual de Vitória da Conquista (BA)
Assessoria Municipal de Diversidade Sexual de Goiânia (GO)
Centro de Referência da Cidadania LGBT do Rio de Janeiro (RJ)
Centro de Referência de Combate à Homofobia do Piauí
Centro de Referência LGBT de Campinas (SP)
Comissão da Diversidade Sexual da OAB de Osasco (SP)
COMPPIRD/SMASDH –Duque de Caxias (RJ)
Coordenação LGBT de Araraquara (SP)
Coordenadoria da Diversidade de Barueri (SP)
Coordenadoria da Diversidade Sexual de Recife (PE)
Coordenadoria da Livre Orientação Sexual de Belém (PA)
Coordenadoria de Diversidade Sexual de Camaçari (BA)
Coordenadoria de Políticas LGBT de São Paulo (SP)
Coordenadoria de Políticas Públicas para Diversidade Sexual de Nova Lima (MG)
Coordenadoria Estadual de Políticas para Diversidade Sexual do Estado de São Paulo
Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual da Prefeitura de Fortaleza (CE)
Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura de Pacatuba (CE)
Coordenadoria LGBT de Olinda (PE)
Coordenadoria LGBT e Igualdade Racial da Prefeitura de João Pessoa (PB)
Departamento LGBT de Macapá (AP)
Gerência Especial de Políticas para Diversidade de Goiás
Prefeitura de São Carlos (SP)
Programa de Diversidade Sexual e Gênero de Belo Horizonte (MG)
Secretaria de Assistência Social Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro
Secretaria de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania do Maranhão
Secretaria de Educação do Município de Maceió (AL)
Secretaria de Estado da Assistência Social e Direitos Humanos de Espírito Santo
Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação de Santa Catarina.
Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Gerência Executiva de Direitos Sexuais e LGBT, do Estado da Paraíba
Secretaria de Estado da Segurança Pública de Santa Catarina

Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos da Prefeitura de Pacatuba (CE)